Publicado em 1954, Maigret et la jeune morte promove uma inesperada
disputa entre o comissário Maigret e Lognon, o inspetor dito Mal-Ajambrado, que
tem complexo de inferioridade e vive com mania de perseguição. Ao mesmo tempo
que durante a investigação auxilia o comissário, Lognon tenta superá-lo e,
desse modo, ser reconhecido como um excelente detetive, sem saber que na
opinião de Maigret já o é. O pretexto para essa emulação é a história da jovem
Louise Lamboine, que foge de casa em Nice e vai para Paris, onde, depois de
passar por muitas privações, é assassinada na solidão de uma noite. Quem era
Louise Lamboine? Por que foi morta? Quem a matou? E por quê? O fim da competição entre os dois
policiais é marcado por uma sutil ironia: a mesma pista que despacha Lognon
para Bruxelas, atrás de um viajante improvável, permite a Maigret resolver o
mistério ali mesmo, em Paris. O comissário, contudo, não se vangloria, pois
Lognon não cometera nenhum erro: “não há curso de polícia que ensine a
colocar-se na pele de uma jovem educada em Nice por uma mãe semilouca”. Mais
que uma investigação policial, este romance apresenta um interessante estudo
sobre a inadaptação ao mundo, o abandono e a dor de estar vivo.
Publicado originalmente na Verbo 21.